Ao espírito atento que me lê, ofereço estas reflexões com delicadeza e verdade.
Entre os volumes que repousam em minha modesta estante, há um que, embora singelo em tamanho, revela-se grandioso em ensinamentos: A Revolução dos Bichos, do distinto senhor George Orwell. Esta pequena fábula política, escrita em tempos de inquietação e temor — precisamente no ano de 1945 —, carrega em suas entrelinhas uma força moral que ecoa como trombeta nos salões do pensamento crítico.
A história, que à primeira vista parece endereçada aos leitores jovens ou aos espíritos afeitos às alegorias campestres, revela-se, logo nas primeiras páginas, como uma metáfora refinadíssima sobre os movimentos humanos em torno do poder, da esperança e da traição. Os personagens — porcos, cavalos, ovelhas e outros bichos de um certo solar inglês — não são apenas criaturas do campo, mas espelhos sutis e mordazes das ações humanas em tempos de revolução e governo.
Orwell, com pena firme e alma vigilante, nos apresenta a Granja do Solar, onde os animais, cansados da tirania do Sr. Jones, promovem uma revolta com promessas de igualdade, liberdade e fraternidade — palavras que soam, ah!, tão doces aos ouvidos da alma sonhadora. Contudo, à medida que os novos líderes, os porcos, se instalam no poder, vemos a esperança se transfigurar em opressão, e os ideais em instrumentos de controle.
Há algo de profundamente trágico e, ao mesmo tempo, luminoso nesta obra. Pois ela nos lembra que a história humana, tão cheia de promessas redentoras, é também marcada por ciclos de desilusão — e que, por vezes, os libertadores de ontem tornam-se os tiranos de amanhã.
Permita-me, leitor delicado, destacar o personagem Boxer, o nobre cavalo de trabalho, cuja fé cega no sistema e no lema “Trabalharei mais ainda” enternece e fere. Quantos de nós, nos dias modernos, não repetimos essa máxima, ignorando que, por trás da exaustão virtuosa, há muitas vezes a perpetuação da injustiça? Orwell parece sussurrar ao nosso coração que o trabalho é digno, mas a cegueira diante da verdade é perigosa.
Às vezes me parece que Orwell, com sua pena cortante e melancólica, escreveu A Revolução dos Bichos não apenas para sua época, mas como um espelho que atravessa os séculos — mostrando que a crueldade, muitas vezes, se disfarça de ordem, de progresso, de promessas justas… mas sempre encontra um modo de oprimir com gentilezas envenenadas.
A Revolução dos Bichos não é uma leitura para ser feita às pressas ou com desatenção; antes, requer do leitor uma postura de contemplação e vigilância. É uma obra que nos toma pela mão com doçura, mas nos conduz por veredas sombrias, onde a reflexão se faz necessária e o espírito, ainda que ferido, cresce.
Recomendo, pois, a leitura deste livro com o mesmo carinho com que se oferece um chá quente numa tarde fria: não pelo mero conforto, mas porque aquece a alma e desperta o pensamento. Que ele encontre abrigo em sua mente lúcida e em seu coração honesto.Com afeto sereno e profundo respeito,
uma servidora das letras e da justiça com alma